
Ocorreu nos dias 23 a 26 de junho o Festival “Les Voix de l’Amazonie”, na cidade de Issenheim. O evento contou com a participação de representantes do IPEASA, no total de cinco mulheres cientistas e educadoras, entre elas se fizeram presentes Kátia Barbosa Coutinho e Irleusa Robertino, respectivamente, lideranças indígenas do povo Munduruku e Apiaká.
Organizado pela Maison Saint Michel e pela Association Les Antonins, o evento teve apoio de pessoas voluntárias e do governo local, além de instituições públicas e privadas da França. O tema do encontro foi proposto com o objetivo de evidenciar as vozes de mulheres da Amazônia, seus desafios diante das inúmeras questões socioambientais enfrentadas atualmente pelos povos indígenas e outros grupos sociais que vivem nesta região.
Para a antropóloga Denise Cardoso a “participação neste evento foi importante porque contou com o protagonismo de mulheres que vivenciam as realidades amazônicas em seus diversos ecossistemas. Além de proporcionar a visibilização do que é produzido cientificamente por instituições de pesquisa da própria região. Desse modo, além do IPEASA, universidades, museus, associações e institutos se fizeram presentes nas conferências, nas apresentações de painéis e nas oficinas (também denominadas como atelier)”.
Gilma D’Aquino também participou do evento e relatou que o aprendizado e as trocas entre participantes foi excelente. A receptividade desde a chegada, bem como a alimentação e estadia, foram maravilhosos. Não houve espaço para o cansaço, mesmo diante da intensa programação”. Segundo a arqueóloga e museóloga Gilma D’Aquino, o evento em si foi impecável, começando com as dinâmicas no início das manhãs, prolongando-se até as atrações artísticas que encerravam a programação diária.
Irleusa Robertino participou representando o povo Apiaká e levou em sua bagagem as narrativas expressas em imagens expostas em painéis e nos vídeos produzidos em sua comunidade Pimental. Irleusa coordenou oficinas de pinturas corporais e, como educadora pode compartilhar saberes indígenas Apiaká. Como liderança manifestou-se em defesa dos territórios indígenas do Brasil e de outras regiões da América Latina.
A acolhida impecável na Maison Saint Michel também foi destacada em sua fala. “Tanto a coordenação da Maison, na pessoa do professor Paulo Barbosa, quanto das irmãs que nela atuam fizeram eu me sentir como um ser humano como nunca havia sentido, porque fui tratada com respeito e de maneira afetuosa”, relatou Irleusa. Os cuidados e a atenção foram observados nas várias atividades e, em especial, na homenagem que recebeu ao ser retratada no cartaz do evento e em todas as artes de divulgação do Festival Amazônia. “Foi uma feliz surpresa ver que minha imagem estava nos diversos meios de divulgação deste encontro lindo e maravilhoso”. As diferenças de fuso horário e de cardápio foram apresentadas como outra interessante vivência em Issenheim e nas várias cidades do Norte da França. E acrescenta que “A experiência foi feliz porque, como liderança indígena houve neste encontro uma troca de experiências e aprendizados, onde pude levar a realidade da Amazônia”.
Para Kátia Barbosa Coutinho, educadora e liderança Munduruku, foi importante para si e para seu povo. Em lugar distante e desconhecido foi acolhida por pessoas hospitaleiras e carinhosas, e por isso sente-se grata em ter participado deste evento. Além disso, Kátia expressa sua felicidade ao afirmar que “representei meu povo e os demais povos indígenas brasileiros”. Segundo ela relatou “O povo Munduruku valoriza os educadores e educadoras, e estar na França representando meu povo reforçou aquilo que foi indicado como o perfil do que se deseja para as práticas e conhecimentos de quem atua na educação”.
Destacou a importância do lançamento do livro intitulado Vozes e Desafios para o século XXI: dos povos da Guyana Francesa aos rios da Amazônia Brasileira, organizado pelo IPEASA, em formato de ebook e manifestou sua alegria em ter capítulo referente às realidades dos povos indígenas, especificamente, sobre os Munduruku que vivem no estado do Amazonas.
Sua atuação com cantos em língua Munduruku em vários momentos do evento foi uma interessante experiência espiritual e artística que permitiu a esta mulher indígena e educadora primorosa, apresentar a cultura de seu povo em outro continente.
Assim como ocorreu com Irleusa Robertino, Kátia Coutinho também coordenou oficina de pintura corporal, apresentou painel sobre realidades de seu povo e participou de diversas outras atividades, inclusive concedendo entrevistas para emissora de televisão local.
A antropóloga Maria Soeli Lemoine apresentou resultados de sua pesquisa sobre o boto, ressaltando aspectos ecológicos e sócio-culturais deste mamífero cetáceo tão presente nas águas e no imaginário da região amazônica. Além disso, participou do debate sobre as realidades amazônicas, incentivando pessoas participantes do evento a refletirem criticamente sobre este momento em que os grandes projetos de desenvolvimento econômico avançam sobre territórios indígenas e de diferentes populações tradicionais.
De um modo geral, as participantes do encontro que oportunizou o protagonismo de mulheres amazônicas a partir de suas vozes, consideraram como exitosa a oportunidade de debater importantes questões com público que se sensibiliza com as realidades da Amazônia. Como a internacionalização do IPEASA se apresenta como um dos objetivos desde sua fundação, ainda em 2017, divulgar os estudos sobre a região amazônica realizados no âmbito deste instituto, bem como fomentar o debate em espaços para além das fronteiras do Brasil, a partir de várias de suas integrantes participando de evento na França, foi uma importante contribuição para a superação de desigualdades sociais e para o maior conhecimento acerca da produção cultural, artística e científica realizada por membros deste instituto.
Fotos da participação do IPEASA no evento:



