É imensa a dor pelo desaparecimento dos nossos guerreiros Munduruku. O IPEASA repudia aqui o descaso completo do governo com os Povos Indígenas e da sociedade não-indígena que “nega” os únicos Povos que sabem conservar a vida no Planeta, o bem estar de todos!

O vídeo a seguir é um tributo do Neepes/Fiocruz ao Amâncio Ikon Munduruku, a todo povo Munduruku e a todos os povos indígenas que continuam a morrer pelo descaso e violência, mas mesmo assim ainda lutam pela vida e por dias melhores. Em 02 de junho de 2020 Amâncio faleceu vítima de Covid-19.

“Conheci o Cacique Vicente SAW em 1998, quando fui apresentada pelas enfermeiras que já atuavam na Aldeia Sai Cinza. Nós moravamos juntas na mesma casa do pessoal da saúde, em Jacaréacanga. Para observar os objetos fabricados pelos Munduruku, seu Vicente me convidou pra ir até o Sai Cinza e lá apreciei a fabricação das tipoias brancas e vermelhas, dos anéis, dos colares, dos arcos e flexas, dos echu, das peneiras, da tiragem e da massagem do açaí, das sarcabanas, etc. Seu Vicente Saw era um jovem adulto muito bonito, de olhos profundos como de um tigre, mas de ar sério: um lider! De lá, sempre que eu ia em Jacareacanga, seu Vicente vinha conversar comigo sobre o que eu havia descoberto de novo nos museus de fora sobre o meu objeto de estudos: a Cultura Material dos Povos Munduruku. Seu Vicente era um conselheiro exigente, não admitia erros quando se falava dos objetos materiais de sua nação. Muitas vezes me corrigiu! No dia 15 de Agosto de 2015, na Aldeia Jacarezinho, realizamos a II Oficina da Cultura Material dos Povos Munduruku, um trabalho de Ensino dos mais Velhos da Aldeia para a nova geração com o objetivo de perpetuar essa cultura milenar – Os professores de Arte Munduruku, que ensinam na escola a arte e o artesanato dessa cultura milenar também eram convidados especiais para o intercâmbio intergeracional – nessa troca de Conhecimentos e Saberes, o nosso convidado de honra foi o grande cacique Senhor Vicente Munduruku, que com tanta generosidade aceitou de transmitir seus conhecimentos, técnicas, ciência, métodologia e métodos de coletar, tratar a matéria e de fazer os Colares Munduruku: uma tradição de séculos, pois cada “animalzinho” trás os espiritos da floresta para humanizar os humanos e ensinar como caminhar la Mãe Terra. O Prof Dr Vicente Munduruku se foi para o lugar dos bons espiritos, mas deixou a força da cultura material e espiritual que acompahara os povos na luta e na proteção da vida no planeta! Adeus aos grandes Guerreiros: o prof Dr Amâncio Ikõ Munduruku, da Aldeia Praia do Mangue, Prof Dr Vicente Munduruku, da Aldeia Sai Cinza, Prof Dr Bernardo Akay e o prof Dr Martinho Borõ Munduruku, da Aldeia Biriba, entre tantos outros. Hoje todos nos Campos de Karosakaibo, junto aos grandes espiritos. Todos são considerados por mim doutores pelo saber que transmititiram de geração em geração e com seus saberes uma nação é sobrevive pela sua lingua, pela sua cultura tradicional, pelas suas técnicas, pelas suas tecnologias ancestrais de economia, de organização social, de organização politica, de saberes espirituais e curativos. Junto-me à todos os Associados do Ipeasa, para manifestarmos a pena de todo o grupo, as condolências à toda a comunidade Munduruku, às familias de seus guerreiros, toda a nossa mais alta estima e afeição.”
Dra Soeli Farias Lemoine, Coordenadora do Comitê Científico do IPEASA

“Senhor Cacique Vicente Saw, com sua presteza e gentileza sempre acolheu em Sai Cinza as instituições que trabalharam no Magistério Indígena, meu eterno e reconhecimento. Obrigada. Aos professores Senhor Martinho Borõ e Bernado Akay, nosso reconhecimento por enfrentarmos os obstáculos na luta por uma educação escolar indígena, a formação dos professores. Etapas nas quais mais aprendi do que ensinei. Meu esterno agradeçimento.”
Profa Dra Regina Juliao

“Deixo aqui o meu até mais ao grande professor Bernardo Akay Munduruku que nos deixou hoje ao qual eu tive o prazer de estudar com ele desde o magistério indígena até o parfor superior na cidade de Jacareacanga. Muitas vezes ele ficava no nosso grupo, uma pessoa simples, sempre queria aprender os conhecimentos dos brancos. Dizia ele que era para o branco não enganar ele. E agora se foi. Vá em paz professor e descanse no lar eterno do Creputia”
Professor Zenildo SAW MUNDURUKU

“Estamos vivenciando momentos muito tristes com essa pandemia com a perda de vários indígena de etnia diversas . Perdemos muitos guerreiros e com estas partidas o que me deixou mas triste foi com súbita morte do meu grande amigo e ex cacique do Mangue. Amâncio Ikon Munduruku. O qual tive a oportunidade de conhecer um pouco do seu trabalho e dedicação com a causa indígena sempre atuante em defesa de seu povo . Amâncio era um profissional da educação muito dedicado um esportista. Uma grande liderança indígena. Conheci o Amâncio na década de 90. E sempre tive por ele grande admiração por sua postura e garra. Uma perda realmente Lamentável.”
Professor José de Ribamar Almeida. Gestor da URE 12 ITAITUBA.